Review: Vingadores - Ultimato


Por Débora Machado

O texto contém spoilers.

O que parecia impossível, aconteceu. Após 10 anos e um total de 22 filmes, Vingadores: Ultimato encerra em grande estilo a primeira saga do Universo Cinematográfico da Marvel. O filme, apesar de ter estreado há praticamente um mês, ainda leva milhares de expectadores às salas de cinemas para assistir o encerramento de uma era gloriosa para os fãs de super-heróis. 

Disposto a apresentar os personagens lidando com as consequências da derrota em Guerra Infinita, Vingadores: Ultimato se inicia praticamente no ponto em que o filme predecessor acabou: o estalo de Thanos que culminou no desaparecimento de metade da vida no Universo. Com isso, temos os heróis remanescentes buscando uma forma de desfazer o ocorrido e voltar à normalidade. Entretanto, eles não esperavam levar um “balde de água fria” ao tentarem novamente o embate com o Vilão e, a partir daí, é que o filme toma um rumo completamente diferente do esperado. 

As três horas de duração não cansam o expectador, uma vez que o filme é recheado de surpresas e cenas balanceadas. Méritos para os Irmãos Russo que conseguiram dirigir um longa com tantas pontas para se fechar e dos roteiristas que contaram a história de forma a entreter o público em meio a tantos personagens. O início mais lento e com um tom melancólico (principalmente no final do primeiro ato) é proposital para a entrega de um terceiro ato eletrizante, que é quando presenciamos uma onda de adrenalina e a entrega de fan service em uma escala jamais vista.  

Mas não é por ser mais moroso que o início deixa de ser emocionante: é nele onde vemos que, de uma maneira ou de outra, os heróis tentaram persistir ou seguir adiante, até aqueles que, a priori, não desistiriam. Neste caso, Steve Rogers, que se torna um tanto conformado e uma Natasha Romanoff que não desiste, se tornando a líder de um grupo que não é o mais o mesmo. Scarlet Johansson entrega muito bem seu papel nesta nova realidade que é impossível não se emocionar. Seus olhos marejados quando não havia mais esperança passando para um rosto vivido e animador ao surgir uma nova chance de desfazer o estalo é tocante. Esta oportunidade de vitória renasce através de um ratinho (seria um Easter Egg do Mickey Mouse, Disney/Marvel? 😊) colocando novamente os Vingadores juntos e em ação.  


A partir daí, o filme revisita diversos momentos do MCU, presenteando os fãs com referências e cenas de outros filmes da saga mostradas por outro ângulo, como a batalha de Nova York, cenas de Capitão América 2, Guardiões de Galáxia entre outros. Até mesmo o esquecível Thor 2 teve seu momento de recapitulação com uma cena emocionante do sempre (e em qualquer condição física e mental) digno Deus do Trovão. 

Somente após a missão estar, a princípio, concluída, que o temido Thanos retoma a cena. Com os Vingadores de posse de todas as jóias e prontos para reverter o estalo, revivemos a angústia de encarar um vilão que parece ser realmente invencível. Mesmo sem a manopla, ele e seu exército são duros na queda e dão ao público a sensação de que tudo está perdido novamente.  

Mas, parafraseando Steve Rogers: os heróis podem lutar o dia inteiro. E ao estilo Senhor dos Anéis: As Duas Torres, a esperança ressurge no final junto com todos os heróis para presentear os fãs com aquilo que todos queriam, e mais um pouco. Foi um deleite aos expectadores presenciar diálogos emocionantes, cenas de tirar o fôlego e acompanhar o fim de tantos personagens queridos. 

Apesar de fechar o ciclo de vários personagens, Ultimato focou em dois dos principais expoentes da Marvel. Diferente de Guerra Infinita, Capitão América ganhou destaque neste filme. Quem não se emocionou nas dobradinhas de diálogos entre Capitão América e seus amigos Sam e Bucky, revivendo suas falas dos filmes anteriores? E quando este mesmo Capitão segura o martelo do Thor e enche a sala do cinema com gritos que parecia gol em final de campeonato de futebol? E para finalizar, ainda solta aquele lema pelo que estávamos há 10 anos esperando. A cena teve até uma pausa dramática e o Capitão não precisou gritar para que o coração de qualquer fã pulasse de emoção.  


E temos ainda o Homem de Ferro que, apesar de seguir em frente, não consegue descansar de fato sabendo que entes queridos se foram quando não conseguiu a vitória sobre Thanos. Muitas cenas com Tony Stark são cheias de ternura e emoção e é possível reconhecer como ele evoluiu do playboy arrogante para agora um homem que possui responsabilidades não somente perante sua família de fato, mas a sua família Vingadores. A frase dita por Pepper Potts ao Tony no final do filme, conclui a jornada de um herói que viveu as mais variadas fases da vida e termina com redenção e sacrifício.
Capitão América, por fim, segue o conselho dado por Tony em Vingadores: Era de Ultron e, recomeça sua vida ao lado de Pegg Carter. Aliás, o filme termina com mais esta referência ao primeiro longa do Capitão América, uma vez que ele finalmente consegue ter a dança com sua amada. 

Em termos de representatividade feminina, não há de se esperar muito da Marvel, pois se até o momento não foi reconhecida por tal, não é no último filme do conjunto que seria diferente. Entretanto, Ultimato apresenta uma cena em que todas as heroínas se unem para ajudar outra (que na realidade nem precisaria de ajuda, não é?) e repete praticamente a mesma fala do filme anterior. Ficou um tanto protocolar, porém foi bonito ver elas em conjunto e deu aquele gostinho de “quero mais”.  

Quem esperava por Capitã Marvel, sua aparição é contida, mas é visível o seu poder e sua ausência em determinados momentos da trama são entendíveis. Infelizmente, tanto ela quanto a Feiticeira Escarlate precisam reduzir sua força para dar espaço para os outros heróis.  

Ponto negativo para o fechamento de ciclo da Viúva Negra que apesar de entendermos seu sacrifício, sua morte pareceu não receber a mesma relevância de outros personagens. Apesar da cena que antecipa o fato ser emocionante e inesperada (embate entre ela e Gavião), uma heroína como Natasha Romanoff, da primeira formação dos Vingadores no MCU, merecia um destino melhor.  


 
 
Quanto à questão racial, Steve Rogers passa o seu escudo para seu fiel parceiro Sam Wilson. Apesar de parte do público esperasse que Bucky Barnes assumisse o manto, uma vez que já possui poderes, a Marvel surpreende em escolher o Falcão, confirmando que o Capitão América é mais uma ideia, um símbolo, um legado, do que propriamente um superpoder. Lembrando que no primeiro Capitão América, Steve Rogers não foi escolhido pela sua força, mas sim pela sua coragem e altruísmo.  

Temos ainda a guerreira Valquíria recebendo de Thor a liderança da Nova Asgard, mas não se sabe ao certo se a personagem retornará futuramente para sabermos como será o andamento de sua história. 
Possíveis inconsistências no filme podem gerar controvérsias, porém neste caso é cabível uma suspensão voluntária de descrença para que a experiência seja aproveitada da melhor maneira possível, até porque tais situações não comprometem o real objetivo do filme. 

Comparado ao seu antecessor, Ultimato não é um filme tão fechado e linear, mas também nem precisa. Enquanto Guerra Infinita é um filme que se sai melhor isoladamente, Vingadores: Ultimato é uma celebração, foi feito principalmente para os fãs que acompanharam a saga durante estes 10 anos. Ele não se preocupa em entregar fan service a cada minuto e nem de às vezes ser um pouco brega. Ultimato é um presente para o público que levou a franquia a alcançar uma magnitude poucas vezes vistas.  

Pegou estas curiosidades, referências e Easter Eggs? 
  • Os roteiristas do filme são os mesmos do Capitão América 1, 2 e 3 e Thor 2. Talvez seja este o motivo de tantas cenas referenciáveis a estes filmes; 
  • A cena em que o Capitão América luta com ele mesmo em uma ponte, remete a luta entre o herói e Bucky Barnes em Capitão América 2. A fala “Eu posso fazer isso o dia inteiro”, também faz referência aos filmes 1 e 3 do Capitão; 
  • Quando Loki se transforma em Capitão América na cena revisitada de Vingadores, é um resgate da brincadeira que Loki faz com seu irmão Thor no segundo filme do Deus do Trovão; 
  • Vingadores: Ultimato é o primeiro filme da Marvel sem cena pós-créditos; 
  • Na cena em que Natasha está conversando com Steve na sede dos Vingadores, aparece uma sapatilha sobre uma cadeira, o que associa ao passado da Viúva praticando ballet em cena apresentada em Vingadores: Era de Ultron; 
  • O número 616 que aparece no galpão onde está a van em que Homem-Formiga reaparece após retornar do Reino Quântico faz referência a linha temporal 616 da Marvel nos quadrinhos; 
  • Na cena em que Tony Stark e Steve Rogers vão ao passado recuperar uma das jóias do infinito, o personagem Hank Pym aparece jovem, com o modelo do capacete do Homem-Formiga das HQs em sua mesa; 
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