Review: Star Wars e a filosofia
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Se você adora pensar sobre os produtos culturais que ama (#nerdiandade), esse livro é pra você! |
- Star Wars e a filosofia
- Kevin S, Decker e Jason T. Eberl (org.)
- Editora Universo dos Livros (Selo Universo Geek)
- Trad. Felipe CF Vieira e Monique D'Orazio
- 384 páginas
- 2015
Por Anne Caroline Quiangala
Star Wars e a filosofia faz parte da série de livros sobre análise filosófica de grandes franquias como Star Trek, Jogos Vorazes e Buffy: a caça-vampiros. Pra quem não tem medo de reflexões profundas e nem preconceitos para com a cultura pop, a coletânea reúne vinte e seis capÃtulos escritos por pessoas acadêmicas interessadas em se fazer entender, dialogando contigo seja você iniciada ou não no universo de Star Wars.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJVBgzah2odA2hqZKajRxAIWB5G2CTvFnyIPq5ZY4erLw3n5sqiK9-QZwKdkwNPiAN9SHI76wyyxn9LF2uVWQ_a8Lp8iiJv6pc1ybiffWW20sdT5f2qiKpGI3l26glkVwZ18LqMHaF9m4m/s1600/frase-yoda-medo.png)
IMPRESSÕES
Publicado em 2015, antes da trilogia protagonizada pela jovem Rey, Star Wars e a filosofia é dividido em sete episódios, iniciado com "A Ameaça Filosófica". Nele, é explorado de forma acessÃvel o Paradoxo Platônico de Darth Plagueis: é possÃvel que um Lorde Sith seja sábio? além de paradigmas da ética, fé e referências da nossa galáxia na filosofia Jedi. As reflexões deste capÃtulo usam a estrutura dialética para desmontar a raiz estoica da sabedoria Jedi e sua contraparte - naquele universo - performada pelo Anakin Skywalker: o niilismo.Nesta primeira parte, há uma grande atenção a trajetória de Anakin e a exploração de temas como a moralidade, as escolhas e a mudança de lado da força. Tanto para quem, assim como eu, não teve filosofia no currÃculo escolar, quanto para quem deseja aprender mais sobre Star Wars, a obra é uma excelente forma de entrada, uma vez que explica os conceitos e acontecimentos sem pressupor requisitos.
Faz um tempo que eu tenho pensando numa solução para o problema de ler muito devagar. Finalmente encontrei um meio de otimizar meu tempo e por a leitura em dia! (Ps: lavar louça nunca foi tão legal!). Experimente por 15 dias grátis: https://try.ubook.com/pretaenerd/ . #audiobook #starwars #starwarseafilosofia #nerdgirl #cool #pretaread #ubook
O FEMINISMO ATÉ O EPISÓDIO VI
Assim como em Buffy e a Filosofia, temos em Star Wars e a filosofia um capÃtulo voltado para a análise da representação feminina (Episódio IV: Uma nova Hermenêutica), mas não apenas isso: o capÃtulo VI que se refere ao retorno do não humano também se relaciona especialmente a minha perspectiva polÃtica feminista Negra vegana. Sem dúvidas, o livro perde bastante por ser uma versão que não inclui a nova trilogia, mas é assertiva na análise dos papeis de Padmé grávida e Leia escrava, além de questões de plasticidade, o medo da carne e a condição moral aplicada ou não aos droides.Sem medo de tomar partido, Jennifer L. McMahon - professora de filosofia e inglês especializada em existencialismo - analisa o modo como "a prisão de Leia reflete o ódio da sociedade moderna em relação à gordura e sua preocupação com o controle de corpos" (p. 210), em especial o feminino:
Em contraste com Jabba [um déspota, amorfo com braços vestigiais], Leia é extremamente esbelta. Enquanto a carne de Jabba parece gelatinosa e amorfa, a pele de Leia é firme e os músculos são claramente definidos e macios. Leia é magra e tonificada, sem qualquer traço de celulite ou excesso de dobras na pele. Enquanto Jabba personifica a gordura, Leia sintetiza o ideal contemporâneo do corpo esbelto. Ela é a bela, ele é a fera.
(McMahon, in DECKER e EBERL, 2015, p. 213).
A aplicação da teoria entrelaçada à descrição dos filmes e materiais do universo expandido, como observada no trecho acima é o ponto-chave da obra. A "tendência anoréxica" teorizada por Susan Bordo foi apropriada neste artigo para demonstrar:
"que no momento em que as mulheres estão ocupando cada vez mais espaços sociais, devam implacável e obsessivamente se esforçar para diminuir a quantidade de espaço fÃsico que ocupam.
(McMahon, in DECKER e EBERL, 2015, p. 213)
Ou seja, a metáfora que correlaciona a materialidade de Jabba ao que é abjeto numa oposição forte à Leia é um claro subtexto em relação à corporificação, ansiedade e modelo de feminilidade impostas às mulheres, por mais que possamos estudar, trabalhar e - teoricamente - fazer o que desejarmos. Acredito que a presença de Leia em Os Ultimos Jedi, usando a força, expandiria bastante a compreensão da personagem criada num momento histórico mais adverso que o atual, mas desmistificar a passagem de Leia escravizada é essencial para que não se naturalize a ideia de que mulheres fortes precisam passar por punições simbólicas.
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Iniciada como uma franquia falogocêntrica (centrada no falo e no logos), Star Wars foi se transformando e aglutinando mais questões para que possamos refletir. |
O PODER
Por mais distante que seja em tempo e espaço, o universo em que se passa Star Wars é realmente parecido com o nosso. Star Wars e a filosofia tem crÃticas substanciais à lógica sexista, especista sem relativizações do lado sombrio e sem descartar ninguém do fandom, mas é redigido por um número Ãnfimo de mulheres. Até mesmo o capÃtulo que se refere à mulheridade é predominantemente escrito por homens, o que é positivo na perspectiva de que homens também precisam se educar para o feminismo, mas significa uma perda de espaço também para as mulheres.Aliás, tanto na franquia de Star Wars, quanto em Star Wars e a filosofia, a maior parte da metafÃsica permanece democraticamente grega, dando poucas falas memoráveis à s mulheres e nenhuma opção entre os lados da Força. Essencializar a relação "belo/bom" na figura de Leia, mantém um modelo feminino unÃvoco, mas felizmente a pluralidade de vozes e expressões de poder no Universo Expandido - como descrito no último capÃtulo - apontam para outras direções.
Em suma, a obra é enriquecedora em vários nÃveis: o tom ensaÃstico permite que o aprofundamento seja acompanhado de comentários sagazes, sem comprometer o pensamento. A demonstração do pensamento dialético permite à leitora se instrumentalizar a ponto de usar a teoria no cotidiano e se aprofundar por si mesma na cultura pop num novo nÃvel!
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