Viver o Afrofuturo


  Por Alessandra Costa

Digite futuro no Google. Você verá imagens de pessoas olhando para frente, para o horizonte, robôs humanoides, alienígenas, telas holográficas, ambientes em cores frias ou azuladas e neon. Será que esse é o futuro? E nós enquanto descendentes afroindígenas, o que nos aguarda para o futuro?

Acredito que esta foi a resposta que fui buscar no curso Afrofuturo: construindo futuros pluriversais a partir da perspectiva africana, ministrado por Morena Mariah e Sarah Brito. E é claro, eu fui surpreendida.


A própria apresentação no início do curso já não foi convencional. Cada um falou sobre seu passado, presente e futuro, brevemente. Alguns já carregavam consigo a resposta de origens remotas de suas famílias, qual etnia indígena ou povo africano. Já neste momento tive o primeiro choque de que não conheço bem o meu passado. Me chamou a atenção também que ao falar de futuro, para todos os presentes, o futuro é coletivo, é compartilhado, é um desejo de esperança de que as futuras gerações negras tenham dias melhores nessa terra.

Quando nos referimos a conhecer nosso passado, parece que encontrar respostas exige um desbravamento profundo, mas aprendi que temos bibliotecas vivas. Nossos bisavós, avós, pais, vizinhos mais velhos, podem nos trazer informações sobre esse passado desconhecido com palavras mais simples, objetivas e afetivas, que livros e enciclopédias digitais. 


Sobre nosso presente, vivemos uma distopia. Ser preto é uma distopia do presente. As consequências do racismo nos levam literalmente a morte de nosso futuro, de um futuro ideal, utópico e como o Afrofuturismo pode responder a essa distopia?

Primeiramente, com o reconhecimento e resgate do nosso passado. O futuro não é algo desvinculado e superado do que já passou, o passado é a sua base. Então, conversar com nossos antecessores, conhecer mais sobre nossos mais longínquos antepassados é essencial para quebrar a perspectiva presente que nos foi ensinada e propagada sobre os negros e sobre a África.


Meus olhos brilharam ao conhecer a história dos reinos de Kush e Kemet. Berços da nossa civilização, mas que são ofuscados pelo conceito de que a África é um continente primitivo e inferior e que seus fatos extraordinários, vide pirâmides por exemplo, são obras alienígenas, quando na verdade são coisas que não são explicadas pela nossa ciência e ocultadas propositalmente pela colonização.


Pirâmides de Kush - fonte: Hypeness


Resgatar um passado em que espiritualidade e ciência se complementavam. Se tivéssemos seguido por este caminho até agora, será que nossa saúde mental ou nossas relações humanas estariam tão comprometidas? No futuro tecnocapitalista, citado no início no texto, é possível imaginar humanidade?

Depois, no presente, entender nosso processo político e social e onde estamos inseridos nele. Vivemos em uma distopia, mas quem a mantém sob nós? Não podemos nos conformar com frases rasas que determinam nosso futuro, por exemplo, "cotas são esmola, não devemos aceitá-las.", será que é isso mesmo? Precisamos questionar e buscar melhores respostas para nós mesmos, porque não podemos ser limitado, por esses conceitos de vitimismo negro. Precisamos reorientar nossas fontes de informação, de pesquisa, nosso consumo e nossas referências. Então: buscar outras fontes de um mesmo fato histórico; como consumidor negro priorizar empreendedores negros; e conhecer intelectuais negros como Kênia Freitas, Sophie Oluwole e Cheikh Anta Diop, entre outros. E assim, gerar um sistema de ascensão coletiva.


Kênia Freitas, Sophie Oluwole e Cheikh Anta Diop.


Sobre nosso futuro, com certeza não fazemos parte desse futuro frio e sem vida e cheio de dispositivos super tecnológicos, este futuro não leva em consideração o ser humano, principalmente o negro, é um futuro que acredita na conexão com ETs, mas não entre humanos. Mas nós podemos construir nosso futuro, criando fissuras nesse sistema e nessa visão imposta, pois devemos nos lembrar: Somos o ancestral de alguém. O que queremos deixar de legado para nossas próximas gerações? Que a pergunta nos sirva de norte para orientar as nossas ações voltadas a um futuro não só habitável, mas principalmente próspero. 


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