Masterchef, Mediocridade e Nossa Auto-Estima


O Masterchef Profissionais acabou e trouxe um par sem fim de discussões para as redes sociais. Veio do debate do machismo, machismo na gastronomia, recalque masculino, mulheres que não aceitam se dizer feministas e por ai vai. Mais recentemente a Stephanie Ribeiro escreveu um texto maravilhoso intitulado: ÉPRECISO TER A CONFIANÇA DE UM HOMEM BRANCO MEDÍOCRE.

O texto dela é simplesmente incrível e eu recomendo que quem quer que esteja lendo meu texto agora, quando terminar vá ler o dela. Acontece que uma conhecida compartilhou isso no facebook e um homem branco cis comentou “mas o Marcelo é bom” e depois saiu completando que foram os comentários deles que queimaram o filme do rapaz. E eu precisei me segurar forte na cadeira para não responder.

O Marcelo não é excelente, ele é legitimamente medíocre. Eu nunca esqueci na vida o dia que minha mãe me explicou o que é mediocridade, que é ser uma pessoa mediana, ficar na média. O Marcelo com certa frequência estava na berlinda entre os piores pratos, verdade que às vezes ele acertava e fazia pratos espetaculares. Agora, queridos amigos de humanas, me deixa explicar o que é media, é a soma das suas notas dividida pelo número de notas que você tem. Se uma pessoa tira 7 e 7, a media final dela vai ser 7 e segundo meu colégio ela estará na media. Agora se uma pessoa tira 3 e 9, que somando dá 12 e dividindo por 2 dá 6, ela estará abaixo da média. O Marcelo é o segundo exemplo.
Os rompantes dele de genialidade não apagam os erros catastróficos. Então ele é apenas um cozinheiro mediano, ou seja, medíocre. A Dayse foi pra berlinda uma vez, ela teve 5 melhores pratos individuais, mas nas outras semanas ela estava com o segundo melhor prato ou salva no mezanino de qualquer forma. Ela é a aluna que quando não é um 10 é um 9 e ainda assim acha que não fez o suficiente, ainda acha que precisa melhorar muito.



E eu entendo disso, eu sou essa aluna. Ou você acha que minha mãe me explicou o que é mediocridade soltando fatos aleatórios no almoço? Não, eu escutei um senhor sermão quando tentei justificar que tirar 8 no boletim não era algo tão ruim assim. E ouvir da sua mãe que isso é se contentar em ser uma pessoa medíocre aos 13 anos é um pouco traumático. Por favor, me lembrem de falar disso com a minha psicóloga na minha próxima sessão de terapia.
Essa é a pressão que eu e Dayse compartilhamos. Eu não sei a origem disso na Dayse, pode ser por ela ser uma mulher num campo de trabalho exageradamente masculino e machista, pode ter fatores de vida pessoal, ela querendo provar pros pais que aquela profissão não ortodoxa vai leva-la a algum lugar. No meu caso existe uma pressão parental.

Minha mãe me pressionava assim por que ela recebeu essa mesma pressão dos pais. E tudo tem começo na questão racial. Sabe aquela cena de Scandal onde o pai da Olivia Pope a faz repetir “Você tem que ser duas vezes melhor para ter metade do que eles tem”?  Isso é algo passado de geração em geração de negros, o que está ferrando com nossa saúde mental, sou prova viva disso.



Quando minha mãe aos 17 anos, sendo mulher negra, de classe baixa e nos anos 80, passou em duas faculdades, sendo uma pública meu avô disse que ela não fez mais que obrigação dela. E esse pensamento é compartilhado por muitos negros, temos a obrigação de ser excelente, de sermos os melhores para não dar voz a pessoas racistas que nos inferiorizam.

Eu realmente acho que a Stephanie Ribeiro está certa e precisamos sim ter a confiança de um homem branco medíocre, no entanto eu acho que também precisamos parar de achar que só temos valor se formos completamente geniais. O meu eu de 13 anos estava certa, 8 na média é uma nota muito boa.
Nem todo meu texto vai ser espetacular, nem todo meu trabalho vai ser o melhor que eu já fiz, acontece que ele não precisa ser. Eu ainda posso ser uma pessoa boa e uma boa profissional, mesmo que eu não seja a melhor.


E não falo isso com a intenção de dizer que nos contentemos com pouco. Longe de mim, mas sim reconhecer que precisamos ter cuidado com o tipo de pressão que nos colocamos e que nos permitir dar uma relaxada, ser um 8 não é um fracasso.
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