Novidades na Netflix: 13th/ A 13ª emenda


[de escravo a criminoso com uma emenda]

Estreou na netflix nesse mês um documentário da Ava DuVernay. A diretora, uma mulher negra estadonidense de 44 anos já havia dirigido “Selma: uma luta pela igualdade” que discute alguns episódios da história da luta pelos direitos civis nos EUA. Ava fez também outros filmes e dois deles, bastante interessantes, estão na netflix.

No nova produção chamada 13th, uma série de pessoas entre acadêmicos, ativistas e alguns representantes de grandes corporações é entrevistada e citada. Eu diria que a temática do filme é o projeto de nação norte-americano, cujo valor máximo da liberdade se realiza apenas parcialmente e na medida mesma em que instaura regimes de exceção para os não brancos, em especial para os negros.

Para mim, a força do documentário reside em mostrar como esses regimes de exceção se instauram, se modificam e se renovam, mantendo ou expandindo sua força apesar das transformações sociais. Este argumento é destacado no tratamento da 13ª emenda à Constituição do país, que proíbe a escravidão e a servidão involuntária, exceto, para a última, como punição de um crime. Os significados e os efeitos desta exceção são discutidos e o resultado é o questionamento do modelo de encarceramento em massa, a violência policial e o sistema penal norte-americano e sua enorme capacidade de punir e matar pessoas não brancas, em especial, homens negros.

O uso de imagens e vídeos de arquivo, que vão desde o tempo da escravidão, com cenas e casos atuais, além do excelente uso do rap como forma de resistência e de denúncia ajudam a criar um sentido de continuidade entre os diferentes regimes de exceção e mostrar os interesses econômicos e o desenvolvimento de várias imagens culturais que os sustentam, ao mesmo tempo em que tornam patente a necessidade de superação dos mesmos.


[população encarcerada nos Estados Unidos]
fonte: tumblr.com

Os paralelos com a situação brasileira são possíveis, guardadas as devidas proporções e a especificidade histórica nacional.

Nossa população carcerária é a quarta maior do mundo, com mais de 600.000 pessoas no fim de 2014. Destes, mais de 60% são negros, segundo o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen)[1].

Além disso, chama atenção a emergência de figuras políticas como Donald Trump, que mobilizam discursos racistas, xenófobos e misóginos e cuja estratégia de convencimento da população está baseada numa política do medo, que consiste em: 1) mencionar um passado glorioso, e por vezes fantasioso, onde as coisas eram melhores; 2) pintar o cenário atual como epítome da degenerescência moral e da perda de valores; 3) apontar os culpados pela situação, muitas vezes um grupo social racializado e/ou minoritário e; 4) garantir a volta do passado glorioso por meio da aniquilação ou controle do grupo supostamente culpado.
Qualquer semelhança com a narrativa política de alguns setores brasileiros não é mera coincidência.
Por tudo isso, eu diria que 13th é um filme importante e que merece muito ser visto e discutido, seja para ter um olhar sobre a história dos Estados Unidos (e suas semelhanças e diferenças com o caso brasileiro) seja para pensar novas formas de resistência.

Referência

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