Poc Con | Feira LGBTQ+ de quadrinhos: Meu olhar pessoal


Por Alessandra Costa

Desde que surgiram as primeiras publicações sobre a Poc Con, vi ali uma oportunidade.

A oportunidade de me despir das expectativas, receios e ansiedades para acolher uma nova visão de mundo. Há pouquíssimo tempo eu abri uma frestinha do meu armário... enquanto eu estava dentro dele, eu imaginava apenas um mundo hostil: os estereótipos, a rejeição e a confusão de não saber a que mundo pertenço e sobre a Poc Con, eu imaginava me sentir deslocada, mas sabia que não podia ficar apenas com as minhas impressões que nem eram reais, eu precisava sair, explorar, ver com meus próprios olhos.

Naquele sábado acordei já ansiosa, imaginando que minha passagem seria breve e solitária. Ao chegar, me surpreendi primeiro com a grande fila que virava a esquina e senti uma mistura de orgulho de já perceber que o evento era um sucesso de público e pânico por ter tanta gente para lidar, interagir. Pensei: vou ficar na minha, quietinha como sou e vai dar tudo certo.

A fila logo atrás de mim continuou a crescer e eu sou muito grata por um moço ter puxado assunto comigo e com outra menina tão ou mais tímida que eu, porque a espera foi menor, mais agradável e já me senti acolhida. Logo descobrimos nossas semelhanças nerds, um tinha uma tattoo da Mulher Maravilha, outra a camiseta e eu o squeeze e dali em diante fomos compartilhando nossas experiências, nossos gostos e desgostos e o quanto a gente sentia a necessidade de um evento como aquele e foi assim que eu já não estava mais sozinha.



Quando finalmente entramos, salão lotado, música alta, aquela rasgação de seda entre admiradores e ilustradores que adoro e uma energia muito agradável, eu estava começando a me sentir em casa. Quando me vi estava no stand da ilustradora Manu Cunhas, escolhendo meus prints e cantando ao som de Britney, que caramba, eu sempre amei, e amo ainda mais depois de adulta.

Outro momento importante para mim foi retirar meu exemplar do Histórias Quentinhas Sobre Sair do Armário, a Ellie Irineu fez uma dedicatória, entregou o exemplar em minha mãos, eu o abracei e disse "Isso vai ser muito importante pra mim, obrigada!" e a abracei e, caramba, como explicar esse acolhimento, só sei que ela já mora no meu coração.


Com essa última lembrança encerro esse relato e concluo que eu não precisava pensar a qual mundo pertencia, sempre fiz parte desse mundo, naturalmente, talvez apenas com medo de sofrer mais por ser quem sou, mas depois da Poc Con eu sei que ser quem eu sou é algo único, precioso e cheio de amor. Eu sou mulher, negra, nerd e bissexual.
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