Onde Foram Parar Os Adolescentes Que São Apenas Adolescentes Na TV?


Eu comecei a acompanhar séries adolescentes muito antes de chegara puberdade. Minha mãe era grande fã de Barrados No Baile (Beverly Hills 90210) e quando criança eu assistia com ela essa série nos sábados da Globo, pelo menos é essa memória que eu tenho. Algumas cenas cresceram comigo como memorias de infância e talvez por isso este seja até hoje, quando eu passei muito da fase adolescente, o “gênero” de séries que mais gosto.



Eu coloquei gênero entre aspas, pois assim como Super-heróis (cujo vídeo eu debato se Super-Heróis são ou não um gênero você pode ver clicando aqui), adolescentes não é realmente um gênero em si. É possível ter teen dramas, ou comedias adolescentes, distopias ou mesmo misturar superagente com adolescentes e fazer dessa combinação um drama, um triller ou comédia

Nesse texto eu irei me focar especificamente em séries por que esse é o tipo de entretenimento que eu mais consumo e é onde eu tenho sentido falta de ter séries de adolescentes onde os adolescentes são puramente adolescentes.

O que é Barrados No Baile para vocês que nasceram nos anos 90 e não conhecem essa joia da televisão norte-americana. Essa é uma série que acompanhou a vida de 8 adolescentes, os protagonistas, que estudavam na West Beverly High School e por ventura seguiu esses adolescentes até a faculdade. Ninguém tinha superpoderes, não havia nenhuma grande conspiração, não se passava em um futuro distante e não havia nenhum grande assassinato ou serial killer atrás de nossos protagonistas. Era apenas adolescentes tendo seus dramas de adolescentes e isso foi suficiente para que a série durasse 10 temporadas completas.
Você ficava emocionalmente envolvido com aquelas historias por que você passou, passa ou passaria por situações similares na sua vida. O primeiro amor, a primeira decepção, perda da virgindade, escolha de curso ou para qual faculdade você iria, os altos e baixos das amizades, amores não correspondidos, triângulos amorosos e tudo mais que faz parte da vida de um adolescente qualquer. E mesmo se passando nos Estados Unidos, adolescentes do mundo todo passavam por aquilo e podiam se relacionar em maior ou menor grau.



Se você é da minha geração talvez lembre de outras séries adolescentes de sucesso como Dawson’s Creek, One Tree Hill ou The OC. E essas séries são um pouco mais recentes então elas trazem novos dilemas, como a descoberta da sexualidade não hetero. O primeiro beijo em horário nobre na TV norte americana entre dois homens aconteceu em Dawson’s Creek, a primeira vez que eu ouvi a palavra bissexual foi em One Tree Hill e uma das protagonistas de The OC namorou tanto homens quanto mulheres, tá foi só uma, mas ainda conta e tem a cena dela nervosa e ansiosa sobre contar para a melhor amiga que estava namorando uma garota, aquilo foi o primeiro contato de muitas pessoas com a experiência de sair do armário. E por isso até hoje essas três séries são muito significativa para muitas pessoas. Eu mesmo tenho os boxes de DVD de One Tree Hill e The OC. Eu gosto de poder revisitar esses episódios e cenas que me foram tão significativos e influenciaram na minha construção como pessoa.

Talvez você seja mais novo e tenha acompanhado Gossip Girl ou 90210, que é uma continuação de Barrados no Baile com um elenco novo de protagonistas, ou mesmo Glee que em meio a toda aquela cantoria ainda era uma história de adolescentes comuns sendo adolescentes e se expressando em números musicais.

Talvez você tenha conhecido Degrassi, uma série que inicialmente foi produzida em 1987 e durou até 1992, contando a história desse grupo de adolescentes que atendia ao Degrassi Junior High e evoluíram até o Degrassi High. Ou você tenha visto Degrassi The Next Generation que assim como 90210 é uma continuação da série original com novos personagens e que mudava o protagonismo à medida que os alunos iam se formando na escola. Ou ainda viu Degrassi Next Class que é a continuação de Degrassi The Next Generation, mantendo o mesmo elenco que a série tinha antes de ser comprada pela Netflix.



Todas essas séries mantinham o mesmo formato, um grupo de adolescentes passando por dramas de adolescentes. Claro que a medida que os anos se passavam os roteiros evoluíam e abordavam questões relevantes aos adolescentes de hoje. Os autores tiveram mais liberdade de abordar temas como racismo, xenofobia, ciberbullying, questões de gênero e tivemos personagens não binares e Degrassi teve um garoto trans, Adam Torres, e Glee teve uma personagem trans feminina, Unique. Outros temas eram questões de saúde mental, estupro, suicídio, gravidez na adolescência, aborto já que nos Estados Unidos e Canadá é legalizado.

As séries são formas de trazer para adolescentes muitos temas importantes e relevantes que as vezes escolas, pais e a comunidade onde eles estão inseridos evitam ou não sabem como discutir. E por isso séries adolescentes, especialmente quando bem-feitas, são muito importantes, elas inicial uma conversa e geram reflexões e auto identificações. Para mim foi muito importante ter personagens falando sobre bissexualidade e ter personagens ao redor aceitando e ver que aquilo poderia ser a minha realidade.

A minha pergunta é onde estão os adolescentes hoje? Sim, ainda existem séries adolescente hoje em dia sendo feitas, mas como eu disse, adolescente não é um gênero por si só. Você consegue colocar essa noção geral dentro de outros temas e aí surgem séries como The Vampire Diaries, Teen Wolf, Shadowhunters e sua pegada sobrenatural, Pretty Little Liars, Scream e Riverdale com adolescentes lidando com o serial killer do momento ou algum tipo de assassinato misterioso. The 100 e sua distopia ou Cloack&Dagger e The Runaway que usam super gente no meio do drama adolescente. É legal ter essas séries, não me entendam mal, eu vi as canceladas e vejo as que ainda estão em exibição.



Mas eu paro numa noite de sábado e penso que saudade dos meus adolescentes que são só adolescentes normais, não precisam liderar um grupo de pessoas em meio à guerra territorial numa terra pós-apocalíptica ou ficam se relacionando com lobisomens, vampiros e magos. Acho que por isso eu me apeguei tanto a Malhação Viva a Diferença, era não apenas um bom roteiro realista dentro do possível, mas eram adolescentes sendo puramente adolescentes, o mesmo vale para Everything Sucks e On My Block. Infelizmente apenas On My Block ainda terá novos episódios.

Estou chegando a triste realização que hoje em dia para uma série conseguir atrair e cativar o público não basta serem adolescentes passando por situações que nós podemos nos relacionar, parece que a TV exige algo a mais. O que é estranho considerando que estamos voltando a ter filmes adolescentes como Com Amor, Simon, Para Todos Os Garotos Que Já Amei e em breve a Netflix vai lançar Sierra Burgess Is A Loser que são um revival das comedias românticas adolescentes a lá John Hughes.



E esses filmes estão trazendo um protagonismo que antes não existia. Com Amor, Simon é uma história com protagonista gay, Para Todos Os Garotos Que Já Amei tem uma protagonista coreana, Sierra Burgess é uma menina fora do padrão de magreza. Seria tão bom ver séries assim, por sinal esse é todo charme de On My Block que é protagonizado por latinos, afrolatinos e negros. Malhação Viva a Diferença tinha protagonistas de descendência asiática, negra, autista, bissexual. Existe todo um universo de vivencias adolescentes que não está sendo explorado em séries e que não precisa de superpoderes ou vampiros para ser interessante.

Se para os filmes está dando certo, por que para TV não está? Eu não tenho a resposta, talvez ninguém tenha, mas se alguém tiver por favor deixe nos comentários. Tudo que eu sei é que sinto falta de adolescentes que são apenas adolescentes nas séries que eu vejo.

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