[Tradução] 9 Dicas de Escrita Para Pessoas Não-Brancas


por Nikesh Shukla *
Tradução: Camila Cerdeira**

Essa tradução é um copyleft do texto 9 Writing Tips for People of Colour

1. A experiência universal é uma mentira. Isso não existe. A experiência universal é para pessoas brancas. O que significa que existe uma expectativa para que você escreva a experiência negra definitiva, a experiência asiática definitiva, a experiência da minoria étnica definitiva. Escreva sua própria experiência. Conte a historia que você quer contar. Tentar forçar uma experiência é uma mentira. Você não representa todas as pessoas da sua raça. Do mesmo jeito que a experiência universal não representa o universo.

2. Você não precisa incluir sua raça, etnia, religião na sua biografia quando está enviando seu material. Só deveríamos nos apegar a rótulos quando eles significam algo para nós e não por que achamos que vão nos ajudar a vender ou não. Ninguém nunca ouviu falar sobre ‘O novelista branco inglês Nick Hornby’ ou ‘O autor caucasiano Martin Amis’. Eles são aclamados. Eles são premiados. Você também será. Eu sei que irá acontecer. E à parte: Não chame a si mesmo de aspirante a escritor. Se você escreveu um livro e está tentando publicá-lo você é um bendito escritor. Você pode aspirar ser publicado tradicionalmente, mas você não está aspirando a escrever.

3. Eu gosto da atitude de Junot Diaz sobre tradução e/ou por em itálico de palavras que não estão em inglês. Ele uma vez disse:

Escrotos lerão um livro que está um terço em élfico, mas coloque duas frases em espanhol e eles vão achar que é demais.

Eu amo isso. Você pode fazer um leitor trabalhar para entender palavras que são cotidianas para você. Tudo bem isso. Eu olho palavras em inglês que não entendo o tempo todo. E eu estou feliz em fazer isso com outras línguas. Por em itálico essas palavras e frases – é onde distinguimos a ideia de pessoas falando em línguas diferentes. Não coloque em itálico palavras que significam tanto para quanto as palavras em inglês.

4. Não sinta que você precisa explicar algo que parece cotidiano para você ou seu personagem. Isso normalmente soa como sendo indulgente com os leitores brancos, em vez de se manter verdadeiro ao universo que seu personagem vive. Eu estou feliz por meus personagens conversarem sobre assalto enquanto comem pav bhaji e não explicar o que é pav bhaji, porque não há relação nenhuma com o assalto, mas também, porque se você não sabe o quão delicioso é pav bhaji, não há nada que eu possa fazer por você.

5. Não é a mais fácil palavra na indústria editorial. Faça com que seja realmente difícil lhe dizer não. Faça-os agonizar sobre o não. Faça os sentir dores de cabeça antes de lhe responder. Você irá receber 100 nãos para cada sim. E esse sim irá fazer os nãos desaparecerem. Faça o não ser difícil escolhendo cuidadosamente para quem irá enviar o livro, finalize o livro com o melhor da sua habilidade, tenha alguém para ler seu livro que irá lhe contar o quão incrível ele é (para aumentar sua confiança), tenha alguém para ler o seu livro que irá dizer o que precisa ser melhorado (para a edição), e formate corretamente. Faça com que seja difícil lhe dizerem não.

6. Escute as críticas. Um agente/editor que se importa com seu trabalho lhe dará um centavo de sabedoria que você pode usar. Use. Ignore as rejeições genéricas. Elas significam que não era adequado para aquela pessoa, o que não tem problema gosto é algo subjetivo. Se alguém lhe der uma crítica que você ache questionável, por exemplo, que eles esperavam um livro sobre, vamos dizer, indígenas caracterizados X, Y e Z, ou que eles já tem um autor muçulmano, ou o que você tem... Essa é uma crítica lixo. Eu não estou dizendo que você não deve tornar isso público, por que isso seria uma mentira deslavada. Mas se você tiver esse tipo de crítica, entre em contato comigo. É importante expor essas micro-agressões. Por que esse comportamento precisa acabar.

7. Ninguém pode apontar que especificidade cultural está faltando no seu livro. Ninguém. Você não está representando todos da sua raça. Eu sei que eu disse isso na primeira dica, mas é importante repetir.

8. Veja, nós precisamos de você. Não se sinta desencorajado ou como se não fosse acontecer ou que prateleiras e livrarias não tivessem espaço para você, elas têm. Nós precisamos de múltiplas vozes. Para que a experiência universal seja reclamado por todos, para que brancos percebam que a experiência asiática, negra e de minorias étnicas tem nuanças, são diversas, complexas e cheias de pessoas diferentes com diferentes histórias, sonhos e esperanças. Mas não para brancos. Não mesmo. Nós precisamos escrever parar o jovem Nikesh e para o seu eu adolescente e a adolescente Zadie, o adolescente Junot e a adolescente Maya e adolescente Femi e o adolescente Bolu e a adolescente Sunny e o adolescente Nitin e o adolescente etc etc etc. Para que eles não se sintam estranhos. Para que se sintam representados. Para que se sintam incluídos. Se sintam parte da sociedade. Não excluídos dela. Eles não se sentem diversos. Se sentem normais.

9. Meu último, controverso ponto é esse: diversidade é uma fraude. Estamos interessados em naturalizar. Parece muito difícil se você tem brancos, e então tem o restante do mundo. Então não se chame um autor diverso. Não pense que precisamos de livros diversos. Pense nisso como: precisamos de representatividade inclusiva nos livros.

Eu acredito em você. Você consegue. Escreva um livro. Mude o mundo. O adolescente Nikesh está esperando.



*Nikesh Shukla é autor do Meatspace, Coconut Unlimited e editor do The Good Immigrant.
** Camila Cerdeira é co-editora do Preta, Nerd & Burning Hell e colaboradora do natv.co.
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