ORPHAN BLACK E O PROBLEMA DAS SÉRIES [QUASE] FEMINISTAS

Recentemente eu vi uma lista de Cinco séries que chutam a bunda do patriarcado. A primeira - óbvio - a especialíssima Buffy a Caça Vampiros [um dia escreverei um post sobre esse meu affair] e, dentre as demais, havia uma Ficção Científica que eu não conhecia (E está no acervo do Netflix): ORPHAN BLACK. Se você nunca assistiu, pode ser que pense como eu pensei "mas, oh, uma versão canadense com menos orçamento de Fringe?".
(...) series que chegam
de voadora no patriarcado,
mostrando que mulheres fortes,
independente de cor, credo e classe,
são mais que necessárias.
São uma realidade.

Anastacia Ottoni


*Aviso: spoiler


Nesse momento de re-pulverização dos feminismos (coincidindo com a morte do Femen Brasil), percebo a proliferação de libelos em prol de representação de minorias na Cultura de Massa, uma corrida para o Centro-Oeste, uma ocupação, uma resistência. Até aí, excelente. A questão que me mobiliza, por outro lado é a de que "não basta estar lá". Coleciono listas digitais de outros blogs, desde "personagens que eu mais gosto" até as de séries feministas que ovacionam Buffy a Caça Vampiros, Orange is the new Black e a que me trouxe aqui, Orphan Black.

Depois de tantos elogios e ascensão ao cago de clássico, cria-se um maremoto de surpresas (?) sobre a Viúva Negra deixado de ser "durona" e se tornado "uma vergonha" nos Vingadores. Sério que vocês nunca viram nada parecido em Buffy? Céus, Buffy é a minha série favorita de todos os tempos, e (ainda) me diverte "apesar da convergência de estereótipos" e sutis violências que tanto reassisti. Então acho justo dizer que é uma série que diverte, que tem lições interessantes, mas acredito que "chutar a bunda do patriarcado é demais". No máximo, puxa a cadeira quando ele vai sentar.

Primeiro, o ponto é que existem diversos feminismos e que eles partem de pressupostos e de locais de fala, atravessam as subjetividades, os dizeres, os olhares e as práticas. Sendo o meu olhar de Feminista Negra, não considero melhoras (o que geralmente significa uma moça branca jovem classe média branca heterossexual magra protagonizando) o suficiente.

Sarah Manning - "Eu não sou sua propriedade"

O segundo é que confundem feminino, mulher e feminismo. Não! São coisas diferentes e que, nem sempre, se relacionam. Como se o fato de ter uma heroína mulher resolvesse os nossos (nós quem?) problemas de não-lugar e de não pertença. O terceiro ponto diz respeito ao que há de mais dissonante, pra mim, é quando deixam uma parte por fazer. Tem uma heroína, mas os outros estereótipos saltam da melodia harmônica.

Tá, então estou em busca duma série perfeita, impecavelmente feminista e panfletária, de preferência? Não foi o que eu disse. O que eu reforço é que eu consumo e me divirto com produtos de massa apesar de enxergar as fendas nos discursos. É por esse jogo de contradições que, assistindo Orphan Black, resolvi pensar sobre o que são "séries feministas".

Allison - "Eu não sou seu brinquedo"

1. ENREDO
Orphan Black (2013) é uma série canadense de ficção científica protagonizada por Sarah Manning (Tatiana Maslany), uma mulher com uma identidade combativa, independente, sexualmente livre (descrita como "selvagem") e mãe de uma criança de oito anos chamada Kira (Skyler Wexler). Sarah representa um estereótipo de orfandade como elemento desencadeador da identidade problemática, daí o título "órfã negra", que soa como "ovelha negra" - nada bom. Ela tem um irmão adotivo que também está à margem, Felix, que é prostituto, traficante e usuário. Já no primeiro episódio, Sarah rouba a identidade de uma mulher igual a ela (Beth Childs) quando esta acaba de suicidar-se. Aos poucos, juntas à Sarah, descobrimos que trata-se duma trama sobre conspiração: o movimento eugenista chamado Neolução (Neolution) promovido pelo Instituto Dyard.

Esse instituto, financiado por "lobistas e tudo mais que há de bom", vem conduzindo pesquisas dentro do Projeto Leda que propiciou a tecnologia necessária para a clonagem humana já na década de 1980. Esses clones cresceram em diferentes países e contextos de modo que, apesar de serem idênticas fisicamente e geneticamente, essas pessoas têm personalidades não apenas distintas, como conflitantes. Muito positivo que a premissa da série seja a discussão dos limites da ciência, o capitalismo como desencadeador da queda dos valores e a junção das variantes acessos (inclusive materiais) e escolhas como multiplicadores das possibilidades de ser.

Helena - "Eu não sou sua arma"

Aos poucos conhecemos mais e mais clones e muitas delas morrem. Esse é um dos aspectos mais cativantes da série: Tatiana Maslany interpreta cada personagem de forma tão completa que eu fico viajando nos elementos de composição de cada sestra (=sister), além disso, cada clone é monitoradx por umx monitorx que, em geral, acaba sendo uma relação afetiva. O golpe é o mesmo, a pessoa se aproxima como quem não quer nada e Tchaaanz: dorme contigo e deixa a medicina do Instituto te examinar enquanto você dorme. Mas relaxa, você mal percebe (?!).

2. ONDE ESTÁ O FEMINISMO?
A maioria das clones são mulheres independentes, que não se conformam com injustiças e que lutam por sobreviver. Elas desafiam uma lógica masculinista de mundo que é bem mais aparamentada; tanto porque buscam reparação da ética científica, quanto a autonomia de seus corpos e subjetividades - sempre obsediados pela Dyard. È correto clonar seres humanos? Quem participa das experiências tem o direito de saber? Quais as implicações de dupla negativa? Tudo o que somos/podemos ser está inscrito nos genes... ou a sociedade nos corrompe? A questão é: existe corrupção? Heroi problemático do Lucács ia morrer, por que assim, não tem mais sinal de que houve valores. Tudo precisa ser questionado - esse é o ponto.

Cosima - "Eu não sou seu experimento"

O irmão de Sarah - Felix (Jordan Gavaris) é gay, magro, jovem, branco. Apesar de ser marcado por diversos estereótipos, é indispensável para a trame, além de ser um dos personagens mais incríveis da série por conta de sua generosidade e caráter; a cada ataque homofóbico direcionado a ele, Fee reage de diversas formas altivas o que, em geral, constrange os/as agressores. Ele é uma das pessoas mais especiais para Sarah e que, de tão incrível, arrisca sua vida diversas vezes e passa a fazer parte do "Clube das clones". Nele podemos perceber que o que é considerado socialmente desviante são partes identitárias que não são postas como negativas, ruins ou moralmente erradas.

Alison é o centro do núcleo humorado da série, uma total quebra da lineariedade. É aquela dona de casa "de subúrbio" bem estereotipada, mas é exatamente nos momentos de fissura que ela se torna adorável, como no momento em que descobrimos que ela é usuária de sintéticos e maconha e quando ela vai trair seu marido. Daí ela diz ao cara:

"Estou objetificando você. Sexualmente"

A clone Cosima também é uma personagem complexa, que desafia a normatividade. Ela está cursando o pós-doutorado, é jovem, usa dreadlook, é fashionista, é usuária de maconha, lésbica, apaixonada por vinho tinto, única clone que usa óculos, e mil coisas que vamos descobrindo sutilmente. Suponho que ela é a personagem com menos discursos não-feministas subjacentes. A altivez de Cosima é emblemática quando a clone Rachel (presidenta da Dyard) encontra Cosima e sua companheira Delphine Cormier (Évelyne Brochu) se beijando no laboratório, diz com desdém algo como "ahhh, então você é lésbica!?". A resposta: "Minha sexualidade não é o mais interessante sobre mim".

Aliás, sobre a sexualidade de Cosima é uma das que mais temos abordagem explícita. Perde pra Sarah, apenas. Enquanto o beijo entre Willow e Tara em Buffy, causou surpresa pela época, a produção de Orphan não poupa cenas de intimidade sem o peso fetichista, sem anormalidade nem nada ridículo. O melhor: até agora, Delphine está viva!

3. O QUE NÃO É TÃO FEMINISTA ASSIM?
Quando estou consumindo/curtindo a cultura de massa, tenho em vista que, toda ação/escolha das personagens se conecta a um tipo de comentário da obra em si sob o desígnio do/a autor/a. Esta pessoa transmite algo como lições/moral da história sem necessariamente explicitar. Isso é o que conceitua-se como "comentário retórico" [1]. Apesar de observarmos um grande salto em relação à categoria mulher em si (inclusive de sexualidades não-hegemônicas) que cultua a independência afetiva e sexual (Sarah não se importa com o fato da clone Rachel se relacionar com o boy Paul - com quem outrora se relacionou) e, sobretudo, a importância da sororidade. Mas, como muitas sabem, a sororidade usualmente é branca [2] e isso se reforça nas narrativas. Não raro, mulheres brancas são mostradas juntas, mas excluindo uma terceira negra.

É bem paradoxal a representação de Felix, pois é um personagem positivo, mas que carrega uma série de estigmas relacionados à homossexualidade, dentre elas, a "promiscuidade", o "sadomasoquismo" a "prostituição" e o "uso de drogas". Inclusive, há momentos da série em que a orientação sexual e as escolhas são continuidades naturalizadas. Apesar de não haver um julgamento moral explícito sobre ser usuárix ou prostituir-se, o que se aprende é que pessoas cujo gênero está no espectro entre homem-mulher (como o clone que é transsexual:Tony) são disfuncionais. Isso também não é julgado como ruim, mas é como um brinde que vem com a homossexualidade.

Ah sim, muito positiva a ideia geral da série, como destaquei abaixo duma entrevista que a a atriz Tatiana Maslany concedeu à Entertainment Weekly:

Nós meio que abraçamos a ideia de que qualquer ser humano tem o potencial para ser qualquer coisa, e eu acho que isso abre portas para todos os tipos de diálogo sobre sexualidade e gênero. E é um material interessante que não se vê com frequência de maneira respeitosa na TV. E não digo ‘respeitosa’ no sentido de ‘martírio’, digo ‘respeitosa’ no sentido de personagens e performances complexos, com defeitos e qualidades.

Entrevista com Tatiana Maslany

Mas, onde está o Tony?

O que ficou parecendo no episódio que introduziu o personagem é que a série quis parecer inclusiva e mostrar que 1) pessoas trans são desfuncionais 2) "pervertidas" 3) transfobia existe e 4) reforçar que homens negros são machistas. Porque sério, ele apareceu e foi literalmente despachado sem muitos porquês. Noutras palavras: até a Carmen Sandiego tem mais aparições, mesmo que ninguém saiba onde ela está.

Sobre mulheres e úteros
Embora Cosima seja adorável, ela sofre de uma doença que está ligada ao útero. órgão ligado à feminilidade cis e que dá, segundo essencialistas, o ultimato sobre a função biológica da fêmea nesse mundo (até mesmo segundo deus): carregar pessoas na barriga, engravidar. Cosima, a que desafia a normatividade, é punida na trama com uma doença no útero. A clone Rachel e a Helena, ambas são "histéricas", descontroladamente violentas etc etc, PORQUE não têm filhos. O comentário retórico sobre elas é que "se pudessem ter uma criança, não seriam os monstros", top a Viúva Negra, lembram? "Porque mulheres estéreis são monstros".

O "Mulato Trágico" = estereótipo
O ex-namorado (um dos) de Sarah Manning é um cara chamado Victor e todos conhecem por Vic (Michael Mando). Apesar de ser um personagem cômico, é um traficante que sequer para ser mal serve (eis o comentário retórico sobre ele). Está sempre querendo tirar proveito das situações e da sua amada Sarah, mas não tem competência para alcançar. É estranhamente emotivo e moralmente fraco. Usuário de drogas, violento com mulheres e reforçando a ideia de que "latinos são assim mesmo: à flor da pele, descontrolados". Há um momento, em que ele confunde Alisson com Sarah e, quando a clone vai narrar a outra o episódio, diz:

- Encontrei um homem na rua que me confundiu com você. Ele era meio...urbano.

-Han?

-Ah. Ele não é branco.

Além disso, o chefe de Vic arranca um dos dedos dele como forma de coação porque Victor não vendeu a cocaína e sequer a tem (foi roubado por Sarah). Ele também tem sua mão pregada por Paul (o militar ariano, ex-boy-2 de Sarah). Enfim, ele é o saco-de-pancadas de todo mundo na série. Exceto Felix, com quem ele consegue ser "machão", pois "é o que latinos são", fraga o Sr. Diesel em Velozes e Furiosos? Sabe o vilão de Far Cry III? Sabe o filme Turistas? Ok. Cê já entendeu.

E os negros? Onde estão os negros?
E por falar em "pessoas de cor" (pra gente, no Brasil, Negras = Pretas + Pardas), temos uma parte terrível. A principal pessoa negra da trama, isto é, que não apenas sobrevive como tem falas por mais de 3 episódios é o detetive Art (Kevin Hanchard) parceiro da clone Beth. Ele é um estereótipo de "bom negro", pois 1) é policial, 2) vivia para proteger a moça branca Beth 3) é mantenedor da moral, 4) não tem família ou qualquer vínculo além de Beth, além do pior 5) macho, alfa, cis, heterossexual, homofóbico. Ele está o tempo inteiro se impondo como homem, o que o torna bastante agressor naquele contexto. E, arrisco a dizer: gerando grande antipatia.

Mas vamos às mulheres. Captei dois momentos, ambos com Alison:





A primeira é uma pessoa estúpida e caricata; A segunda é a "tutora" em seu período de reabilitação. Enquanto a primeira cause certa irritabilidade, a segunda é certamente aquela que está ali pra servir e cuidar. Sua indiferença e má vontade são enormes, mas ainda assim, não o suficiente para romper o paradigma histórico.

Então, guardei o "ouro" para o final. A personagem Amelia não está em nenhuma das listas que eu encontrei pela internet com nomes de atrizes de Orphan Black... Mas vamos lá. A órfã negra é, na verdade, a moça branca-hetero-cis-classe-media Sarah Manning que é socialmente uma "ovelha negra" - retórica novamente. Amelia é africana e foi submetida à experiência de ser barriga-de-aluguel e ter tido duas filhas que são clones e gêmeas: Sarah e Helena. A primeira, ela deu ao Estado e a segunda para a Igreja. Uma frase dela emblemática dita à Sarah: - Vocês são noite e dia.

Com isso, ela organiza de forma maniqueísta o que são as suas filhas: noite/dia, boa/má, claro/escuro, racional/irracional, enfim, ignorando o fato de seres humanos serem constituídos de variantes, escolhas e contextos. Ela faz parecer que algo prévio nos constitui... o que me incomoda profundamente, é que ela é a única mulher Negra a ter voz e, em poucos minutos, constrói um estereotipo tão sólido que, na verdade percebo que o problema não é esse, mas a falta de questionamentos que ela representa.

O primeiro ponto, é que ela ser a mãe de duas jovens brancas surge como algo inesperado e aquela ideia de "ah, sim, geneticamente possível, mas", mas ela não tem nada genético em comum com as gurias. Olha o jogo duplo. Sarah se encanta com a possibilidade de ter respostas sobre si mesma ao ter contato com Amelia, mas essa possibilidade é destruída pelo ímpeto "ilógico" de Helena. Ainda na primeira temporada, Helena descobre que a mãe biológica escolheu separá-la de sua sestera (=sister) e mandá-la ao convento, onde foi brutalmente violentada, submetida a todo tipo de programação mental, enjaulada, privada de alimentos, sedada...enfim. Somada a essa raiva, temos o "não é possível você ser minha mãe", já que ela é Negra. O racismo de Helena (que é ucraniana), portanto, chega ao extremo de ela apunhalar a mãe e cuspir nela. Essa imagem é de uma violência simbólica e física tão absurda que não faz sentido postar aqui. Óbvio que a construção dessa imagem é embasada pelo descontrole de Helena que é totalmente instintiva, reativa, louca, histérica (veja que é outro estereótipo), então, é uma imagem que a própria trama silencia como racismo.


A violência de gênero racializada então, é um eixo que trespassa os vários núcleos da série. O discurso sobre sororidade não cabe a nenhuma personagem Negra e, mais do que isso, pessoas negras são colocadas como dispensáveis sempre que não são passíveis de violência física. Quanto a Art, ele exerce poder de forma tão absurda quanto Paul em sua truculência desmedida. Isso tudo no século XXI, e ainda há quem me pergunte quem eu acho que eu seria no século XVI. Não precisa ser um gênio pra concordar com Grada Kilomba [3]: subjetividades negras são ainda construídas à luz (e à luz mesmo) de experiências coloniais, de violência, silenciamento e morte. E a grande violência é exatamente a reafirmação disso todo o tempo em todos os lugares, inclusive nos de divertimento, tipo séries.

4. CONCLUSÃO
Talvez, no fim de tudo isso, você se pergunte o porquê de eu me me dar ao trabalho de assistir à série, já que. É exatamente o "já que" e o "apesar de" que constituem a dialética "preta-e-nerd" e o "burning-hell". Gosto de cultura de massa porque é divertido (já dizia Joanna Russ), mas espero que um dia seja possível que as mentes criadoras não sejam acorrentadas por valores que brutalizam, desumanizam e objetificam o que consideram abjeto. No caso da série analisada aqui, óbvio que ela é bastante inovadora ao mesclar tantas questões de ética científica, sexualidade, representação da mulher, mas é de uma continuidade absurda quanto à questão racial. Acredito que vale muito a pena assistir, ter contato com essa elaboração da realidade cotidiana, pois, a exemplo da incrível Shonda Rhimes (criadora da série Scandal) conhecendo os mecanismos podemos nos apropriar deles e criar realidades possíveis pra todo mundo se divertir em paz - isto é, com possibilidade de descanso aos olhos, corpo e mente. Se você pensa que assiste séries feministas na mídia mainstream, precisa ter os dos olhos abertos sempre, porque, na real, elas são SÓ UM POUCO FEMINISTAS, pra nem perder você nem os nerds clássicos.

5. REFERÊNCIAS
[1] HOWARD, Sheena C; II JACKSON, Ronald L. Black Cmics: politics of race and representation. New York: Bloomsbury, 2013.
[2] Grada Kilomba escreveu um texto sobre isso, em português, na sua página no Facebook: Grada Kilomba.
[3]______. Plantation Memories: episodes of everyday racism. Budapeste: Unrast, 2010.

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Orphan Black and Fiction - The Mary Sue
Black Nerd Problems
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5 motivos para ver Orphan Black - Nem Um Pouco Épico
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